Há uma lenda que diz que, séculos antes da chegada dos espanhóis às Américas, os Incas subiam às altas montanhas dos Andes para cultivar e realizar rituais de culto aos deuses. Em uma dessas incursões, encontraram madeira de cana e a cortaram, dando origem à Zamponha, este instrumento que desde então se entrelaça com a cultura e espiritualidade andina.
O Tubo Sonoro dos Andes
Segundo a mitologia andina, o encontro dos Incas com a madeira de cana e o subsequente sopro, produziu um som que se assemelhava ao sussurro do vento, criando uma conexão imediata com o elemento ar. Dessa forma nasceu a Siku ou Sikuri, termo do idioma Aymara que se traduz por "tubo que emite som", que hoje conhecemos como Zamponha.
Alguns estudiosos exploraram a origem das Siku e sua afinação, e ressaltaram como tradições musicais foram herdadas e aperfeiçoadas através das gerações. Alguns apontam a cultura Huari, no Peru, como um dos berços desses instrumentos aerofônicos por volta do século V. O uso de materiais evoluiu do barro à madeira e metal durante o período espanhol, culminando na adoção da cana no século XVII. Essa evolução reflete não apenas progressos tecnológicos, mas também as ricas trocas culturais que moldaram a história musical da região.
Atualmente, a Zamponha se destaca como um dos principais instrumentos do altiplano andino, unindo Bolívia, Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Peru. Mais do que um artefato musical, ela é um emblema da cultura andina, cujas melodias distintas atravessam o tempo e as fronteiras, perpetuando o legado dos antigos povos.
"Sinfonia"
A Zamponha apresenta uma diversidade de nomes que refletem sua rica história e a amplitude cultural de sua existência. Ela é conhecida como Siku em Aymara, Antara em Quechua e também referida como Syrinx ou Flauta de Pã (Pan Flute) em outros países.
Para esta última denominação, há uma história da mitologia grega que a ilustra. Segundo este mito, a origem da flauta está profundamente entrelaçada com a história do deus Pã - daí o nome "Flauta de Pã". Pã é o deus dos pastores e rebanhos, das montanhas selvagens, da música rústica e das festividades pastorais, frequentemente representado como sendo metade humano e metade bode, com chifres, pernas e pés de bode. A história mais famosa que conecta Pã à flauta de pã envolve a ninfa Syrinx. Segundo a lenda, Pã se encantou pela bela ninfa Syrinx. Ao ser perseguida por Pã, que estava tomado por sua paixão, Syrinx fugiu. Quando alcançada às margens de um rio e sem saída, ela pediu ajuda às ninfas aquáticas, que atenderam ao seu apelo transformando-a em um feixe de canas. Quando Pã, ao chegar, soprou nas canas tentando falar com sua amada transformada, ele percebeu que o vento que passava por elas produzia um som melodioso. Encantado com essa descoberta e desejando manter de alguma forma a presença de Syrinx consigo, Pã cortou algumas dessas canas e as uniu lado a lado em ordem decrescente de comprimento, criando assim a Flauta de Pã. Dessa forma, mesmo não podendo ter Syrinx como desejava, Pã conseguiu capturar sua essência no som do instrumento que ele passou a carregar sempre consigo. Essa história perdura como uma das mais poéticas origens de um instrumento musical na mitologia grega.
Embora seja frequentemente associada a esta mitologia, a presença da Flauta Pã é documentada em várias culturas ao redor do mundo, incluindo África, Ásia e, claro, na América do Sul, onde é conhecida como Zamponha.
A etimologia da "Zamponha" suscita debates etnográficos e musicológicos, apontando para uma possível derivação da palavra "Sinfonía". Esse elo sugere que, durante o contato e a conquista pelas potências europeias, os povos originários dos Andes foram expostos a um novo universo musical, incluindo um vasto repertório de instrumentos clássicos trazidos pelos colonizadores. A incorporação e adaptação do termo "Sinfonia" ao Siku refletem uma tentativa de assimilação e ressignificação cultural, simbolizando um ponto de convergência entre as tradições musicais indígenas e europeias.
O Instrumento
A Zamponha é formada por um conjunto de tubos de diferentes comprimentos e diâmetros, dispostos em uma ou duas fileiras verticais e o número de tubos pode variar.
A altura do som vai depender do comprimento do tubo, que varia entre 7 e 60 cm, com diâmetro que varia de 1 a 2,2 cm. A depender da quantidade de fileiras, tubos e tamanho, a Zamponha adquire outros nomes, como por exemplo: Zamponha Antara; Zamponha Chuli; Zamponha Malta; Zamponha Toyo; Zamponha Sanka; Zamponha Cromática.
Ela pode ser usada tanto como instrumento solo quanto em conjunto. Na música tradicional andina, muitas vezes é tocado em conjunto com outros instrumentos como violão, charango, quena e percussão, criando ricas harmonias e ritmos.
Para tocar a Zamponha, o músico deve soprar nas pontas dos tubos, criando tons diferentes dependendo de sua duração. Devido ao comprimento de cada tubo e à técnica de sopro, cria-se um som particular que cria melodias incríveis.
Zamponha em diferentes estilos musicais
A Zamponha é utilizada em diversos gêneros musicais, como música tradicional andina, folclore e música indígena. Mas alguns músicos e grupos adotaram a Zamponha em diversas culturas e gêneros musicais, adaptando-a às suas próprias tradições, incorporando-a a outros estilos musicais, como a música pop, contemporânea, clássica, fundindo-a com outros instrumentos e gêneros.
Música Andina
Música Clássica
Orquestra de Instrumentos Andinos
Zamponha nos Estudos da Soundfulness
A Zamponha, com sua essência rítmica e melódica, representa um portal acessível ao mundo da música, mesmo para aqueles sem experiência prévia. Este instrumento, emblemático das tradições ancestrais das Américas, permite uma aprendizagem intuitiva, onde prática e dedicação conduzem rapidamente ao domínio de suas harmonias.
Na prática do Sound Healing, a Zamponha é empregada de maneira singular, buscando evocar melodias serenas e intuitivas que envolvem o ouvinte em uma atmosfera de sagrado recolhimento. Sua técnica de execução, que permite deslizar suavemente de um tubo a outro e soprar levemente sem a necessidade de atingir notas plenas, facilita sua inclusão em rituais sonoros e massagens sonoras, práticas centrais nos cursos de Ritual de Som e Massagem de Som oferecidos pela Soundfulness.
A Zamponha é, em sua essência, um instrumento que evoca o coração, a delicadeza e a tranquilidade, servindo como um elo entre o tangível e o intangível, entre o cotidiano e o sagrado.
A Zamponha não é apenas um instrumento musical; é um elo entre passado e presente, entre diversas culturas e entre o humano e o divino. Sua história, permeada de mitologia, inovação e intercâmbio cultural, ressoa com a essência da tradição andina e sua influência perdura, encantando gerações modernas em todo o mundo.
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Curso Água de Massagem de Som
Referências:
"La Zampoña, Instrumento Musical Ancestral", La Carne Magazine | 2019
"Panpipe", Britannica
"La rebeldía de los cóndores" - Grupo Altiplano, Antonio Perez | 1985
'The Master of the Pan Flute' Gheorghe Zamfir playing 'The Lonely Shepherd', André Rieu | 2023
Orquesta de Instrumentos Andinos, Fundación Teatro Nacional Sucre | 2021
"La zampoña, el instrumento de viento que llena de orgullo nuestra música", Peru Info | 2021
Picture "The Great God Pan After Lord Leighton PRA (1830 - 1896)", Royal Academy of Arts, UK
Instagram Casa de Cultura Ecuador, Citação Girault, 1986
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